É comum o doente entrar no consultório e começar por pedir exames em vez de uma consulta. Exames são apenas um complemento. Muitas das vezes, o mais importante é a história clínica e o exame objetivo, isto é, as questões colocadas pelo médico e a observação física. É daqui que se retira o mais importante. Se daí resulta no pedido de exames auxiliares? Não sabemos.
Exames solicitados sem uma história clínica adequada
Aliás, exames auxiliares solicitados sem uma história clínica podem ser, nada mais nada menos, do que um tiro ao alvo. Se utilizarmos essa analogia, deverão ser pedidos vários exames até encontrarmos a solução. Mas como quem procura encontra… aparecerá algo que não queremos e que em nada nos vai favorecer, pelo contrário.
Exemplo e riscos de exames indiscriminados
Passo a dar um exemplo – pedir uma ecografia mamária a uma mulher sem queixas e sem história pessoal ou familiar que o justifique? Talvez não seja boa ideia. Poderemos encontrar lesões perfeitamente benignas que poderão ser sujeitas a exames invasivos (biópsias), para além da preocupação que vai causar à mulher e sem qualquer necessidade. Na medicina, chama-se a isto iatrogenia. Há mulheres a morrer com cancro da mama? Sim, há. Podemos salvar todas? Infelizmente não. Mas também sabemos que não existem métodos de rastreio eficazes conhecidos em idades jovens, caso contrário já estariam em prática.
Prevenção quaternária na medicina
Prevenir é crucial, mas pedir exames indiscriminadamente nem sempre é benéfico. Essa prática, conhecida como prevenção quaternária, visa evitar intervenções desnecessárias que possam causar danos aos utentes. Em vez disso, enfatiza uma abordagem mais cautelosa e personalizada na medicina preventiva, priorizando a saúde e o bem-estar do utente. É essencial que os profissionais de saúde e os utentes estejam cientes dos princípios da prevenção quaternária para garantir uma abordagem mais informada e prudente na promoção da saúde.
Não subestime o ato médico. Mas… ao médico também digo: não subestime o que o doente vos diz 🙂 muitas vezes é o doente é quem nos dá a resposta, durante a consulta.
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